Filosofia de ministério
Na época de minha primeira graduação em Teologia, um professor pediu que escrevêssemos uma filosofia de ministério. Encontrei e li o arquivo, entre risadas e o assombro de Deus chamar um menino tão imaturo. Hoje, se eu escrevesse uma filosofia, ela seria mais ou menos assim.
Sou chamado por Deus para pastorear pessoas. Acompanhá-las na caminhada de fé. Auxiliá-las em suas lutas e estar junto. Eis a essência da tarefa pastoral.
Durante algum tempo, me vi como responsável por apontar o caminho do crescimento, os alvos relacionados ao desenvolvimento numérico e institucional de minha igreja. Eu era o homem da visão, um coacher (treinador de equipes), gestor de uma organização destinada a “conquistar o mundo”, no sentido evangélico dessa expressão.
O tempo passa e somente a Palavra de Deus permanece. Um planta, outro rega, mas “Deus é quem dá o crescimento” (1Co 3.6-7). Os programas se tornam mecânicos e insuficientes. Os alvos, insípidos. Estratégias de liderança não suprem as verdadeiras necessidades da alma. Queremos conhecer a Deus e isso não é possível com metodologias mecanicistas de crescimento. Queremos adentrar ao véu e adorar ao Altíssimo; contemplar ao Filho pela fé. À medida em que o conhecemos, queremos ser mais humanos, humildes e cristãos. Precisamos de significado, essência e vida. Ouvi-lo, aprender dele e obedecê-lo. Ter menos medo enquanto prosseguimos. Ser mais calmos. Amar mais e nos sentir mais amados. Precisamos de graça — entender o que é graça, percebê-la com mais sensibilidade e desfrutar dela.
Sou pastor, convocado por Deus a caminhar com seu povo, em suas dadivosas experiências de alegria e em suas trágicas experiências de sofrimento. Estar presente, acompanhar, invocar a graça do Senhor sobre as pessoas. Essa é minha vocação. Ajudar as pessoas a nascer, viver e morrer. Curar, alimentar e orientar almas. Pastor, não executivo. Pastor, não homem de marketing. Pastor que ama a ovelha, que vai buscá-la com compaixão, que admoesta, chora e ora. Essa é minha vocação.
Antes havia a ambição de ser pastor de uma grande igreja. Eu não tinha consciência disso e dizia que minha meta era a “expansão do reino”. Hoje a meta é diminuir. Desejo me tornar pequeno e imperceptível. Que seja engrandecido somente o Deus eterno; que só seja visto o Cristo redivivo; que só a Palavra dele ganhe destaque. Sou pó, insignificante à parte do mandato e da benevolência de Deus que me resgatou. Pequeno e humano, suprido, fortalecido e abençoado pela igreja.
Meu relacionamento com a igreja é de amor, doação e misericórdia. Dou e recebo amor. Dou de mim mesmo e sou suprido. Caminho junto com os irmãos. E todos somos agraciados pela misericórdia divina.
Sem dúvida, continuo compromissado com o crescimento e com a excelência, mas centrado naquilo que é essencial e não periférico: Gente que ri, chora, ama, odeia, briga e perdoa. Minha filosofia de ministério? “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
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1 Comentário
O trabalho pastoral é nobre em sua essência. É contracultural, escreve Eugene Peterson: “Os pastores são encarregados de manter clara a distinção entre as mentiras do mundo e a verdade do evangelho”.
“Temos o compromisso de manter viva a proclamação e de cuidar das almas em uma era que nega e banaliza a alma”.
Os pastores bíblicos são um contraste divergente da cultura moderna.
Ótimo texto pastor.